FORD DO BRASIL: ENTENDA AS CONSEQUÊNCIAS DA SAÍDA

Um anúncio como a saída da Ford do Brasil não poderia, sem dúvidas, passar despercebido. E ainda está sendo discutido. Neste post você saberá mais detalhes sobre esta saída.

Os especialistas em economia ainda discutem quais foram os motivos que levaram à saída da montadora estadunidense a deixar o país. Para nós o futuro parece mais claro. As consequências da saída da Ford, no país, podem ser muito negativas.

O QUE A FORD DO BRASIL REPRESENTAVA?

FORD DO BRASIL
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Bastante!
Para se ter uma idéia, somente no ano passado, os veículos da Ford respondiam por 119.454 licenciamentos, ou seja, 7,4% de todos os carros, caminhões e outros veículos motorizados.
Se formos considerar somente os veículos comerciais leves, isso representa 7,13% do total. Isto significa, em números absolutos, que 19.864 veículos geram algum tipo de renda para seus donos.
De forma geral, a indústria automotiva representa aproximadamente, 1% de toda a produção de bens e serviços do Brasil. Ainda mais, esses números aumentam se focarmos apenas na indústria de transformação, chegando a 4% do total.
Em suma, o setor ainda é fundamental para a economia por causa da sua ligação íntima com outras áreas. Em outras palavras, é fonte geradora de uma grande demanda de mão de obra, serviços e insumos.

E COMO FICA ESSA PRODUÇÃO DAQUI PARA FRENTE?

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A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), através do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Nemea/Cedeplar) desenvolveu um modelo para ajudar a responder esta pergunta.
Segundo este modelo, a produção nacional de automóveis sofrerá uma queda de 7,4%, nos próximos 20 anos. Este cálculo foi feito com um cenário em que a Ford do Brasil continuasse funcionando.
À primeira vista, o aumento do preço dos veículos (mesmo nos de outras montadoras) é o que o consumidor perceberá como maior impacto imediato.
Além disso, a quantidade de carros importados no Brasil aumentará. Na verdade, isto é um agravo do que já vem acontecendo.

AS PERDAS EM OUTROS SEGMENTOS DA ECONOMIA

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Desde praticamente o início da industrialização do Brasil, o setor automotivo está presente. Eventualmente, isso gerou uma tendência de integrar o setor a muitos outros. Além do mais, esta tendência não se reverteu ao longo dos anos.
Como consequência, isto pode provocar a disseminação das perdas do setor automotivo para outros setores. Nesse sentido, os impactos projetados nos próximos 20 anos serão de 0,3% em toda a indústria brasileira.
Do mesmo modo, os setores de serviços e comércio, diretamente envolvidos com a indústria também sofrerão impactos. Entretanto, isso era de se esperar, pois o impacto segue uma lógica de efeito dominó.
Antes de mais nada, a produção automotiva cai. Posteriormente, temos os impactos sobre todos os outros setores da economia. Finalmente, ocorre uma situação da qual, praticamente, nenhum brasileiro estará imune.
Na verdade, espera-se uma queda generalizada de empregos. Por consequência, a renda e o consumo das famílias tende a diminuir. Ao mesmo tempo, nas mesmas duas décadas projetadas anteriormente, espera-se uma queda de 0,29% na agricultura, e 0,27% no setor de serviços.

OS IMPACTOS PARA OS BRASILEIROS

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A princípio, espera-se uma perda da atividade econômica do Brasil (calculada, através do PIB) de 0,06% em 2021. À primeira vista, pode não parecer muito, posto dessa forma. Todavia, isto equivale a R$ 3,8 bilhões que deixarão o país com a saída da Ford do Brasil.
A longo prazo as projeções também não são boas. Em duas décadas, é prevista uma queda na economia de 0,28%. Ou seja, R$ 16 bilhões.
Isso se dá por conta, também, das quedas de 0,38% nos investimentos e de 0,33% no consumo das famílias. Nesse sentido, assim como todos os setores, direta ou indiretamente, afetará, a renda das famílias também o será.
Os maiores impactos sobre os empregos serão observados a curto prazo. Por exemplo, no ano de 2021 haverá uma redução de 0,11%. Na prática, isso representa um rompimento de 50 mil vínculos no mercado formal.
Ao mesmo tempo,um grande impacto no mercado informal, por conta do menor poder de compra dessas pessoas. Esta situação vem para agravar a já combalida situação do desemprego no Brasil.
A diminuição dos mecanismos de seguridade do trabalhador, por exemplo, vem sendo notada há mais de meia década. Simultaneamente, a crise econômica causada pela pandemia de Covid-19 não ajudou em nada nesse quadro.

CONSEQUÊNCIAS A LONGO PRAZO

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A longo prazo, projeta-se uma participação menor da indústria em nossa economia. Esta tendência, que já existia antes da saída da Ford do Brasil, se agravou com esse acontecimento. Desta forma,  os impactos no futuro da economia serão enormes.
Afinal, apesar da forte automação no setor, o trabalho humano envolvido na indústria supera o de qualquer outro setor.
O setor industrial gera os produtos com maior valor agregado da economia em relação a outros setores. Estamos falando de custos com serviços, operação, pesquisa, desenvolvimento, administração e outras atividades.
Com a perda de participação da indústria na economia, a tendência é o Brasil se encaminhar para os setores de serviços e agronegócio. Setores esses que não geram tanto crescimento econômico ou boa remuneração aos trabalhadores como o setor industrial.

COMO A SITUAÇÃO PODE SER REVERTIDA

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Esse é um dos pontos mais complexos para se tratar nesse momento.
Inicialmente, a Ford do Brasil, assim como diversas outras empresas, vinha recebendo diversos incentivos desde sua instalação no Brasil, isso não impediu a saída da empresa para a Argentina.
Nesse sentido, a discussão não se resume a somente em retirar ou não esses incentivos da indústria automotiva, mas sim como aplicá-los de forma mais assertiva no próprio setor.
Outra discussão bastante forte é quanto à reforma tributária brasileira. Em comparação com setores menos produtivos da economia, a indústria é muito tributada. Isso nos leva a produzir bens de alto valor agregado, mas com preços pouco competitivos.
A longo prazo, o incentivo para investir em tecnologia é quase nulo. Isso leva a um declínio substancial da indústria. Nesse caso, talvez a solução resida, em parte, em se inverter essa tributação.
Ainda falando de tributos, o Brasil é uma das poucas democracias que não tributa os dividendos das empresas, preferindo tributar os bens. Como consequência, gera um efeito cascata em toda a cadeia de consumo, além de deixar muito dinheiro parado e concentrado em poucos indivíduos.
Assim, uma reforma tributária, focada no crescimento da economia (e não em sua financeirização como tem se discutido), parece ser a saída mais adequada.
Esperamos que você tenha gostado do nosso artigo.

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